O humor tem limites? Sim, não, talvez…
Written by Inês Ferreira on 28 de Março, 2023
Limite está na pessoa, não no humor?
Atualmente, vivemos numa sociedade onde existe um conflito entre a liberdade de expressão e a hegemonia do politicamente correto.
No sábado, 25 de março, o ator, humorista e músico César Mourão falou sobre os limites do seu humor no podcast “Posto Emissor”. “Acho que o limite do bom senso é importante. Pelo menos, é por ele que eu me rejo. Hoje em dia, não brinco com a homossexualidade, religião ou raças como brincaria há 15 anos”, afirmou.
“E não é uma questão de ‘ah, tens medo do que as pessoas depois possam dizer e, por isso, és um cobarde’. Talvez seja, mas não o faço com essa intenção”, acrescentou.
Foi esta conversa que me fez abordar este tema, algo que já tinha debatido noutras ocasiões. Nunca cheguei a uma verdade absoluta…isto se é que ela exista. Cada um com pontos de vistas diferentes, muitas questões surgem…de mãos dadas com tantas respostas. Mas afinal, existe ou não limites?
Acredito que os temas sérios devem ser abordados e fazer parte da comédia, mas também sou da opinião que muitas vezes é possível seguir outro caminho para fazer rir o público. Em muitos casos, e citando a famosa frase de Herman José, talvez “não havia necessidade”.
É uma linha ténue, este limbo de nem sim nem não… será que o humor surge como um “problema” filosófico, social e geracional? Sem dúvida, não seria tema de discussão se assim não o fosse. É a parte interessante de sermos pessoas diferentes. Tentei perceber junto de algumas pessoas a visão sobre o tema.
Limite está na pessoa, não no humor!
“Basicamente cada humor tem um público, o comediante normativamente não faz piadas para ofender, faz piadas com um assunto, um ponto de vista, mas raramente, será a opinião daquela pessoa/humorista. Cada pessoa tem o seu limite, mas o humor em si, não tem limite, porque a pessoa pode “escolher” gostar ou não da piada…basta uma pessoa rir que já significa que é uma piada (…) A piada também tem o momento certo para ser entregue, como é óbvio o comediante não deve ser importuno, e por vezes o limite é o momento” – João Roque, 26 anos.
“A vida não se pode levar tão a sério, mas também não podemos usar o humor para descredibilizar certos assuntos e para magoar outras pessoas, isso pode prejudicar várias pessoas e pode fazer outras sentirem medo de se mostrarem ou de serem elas mesmas” – Mafalda Amora, 23 anos.
“O humor deve ser usado nos mais diversos temas. Contudo, há momentos para tudo. As coisas têm de ser muito bem pensadas. Atualmente, vivemos numa sociedade que já não dá espaço para exprimir certos assuntos. Agora, as pessoas estão em busca de algo que possa ser ofensivo, para rapidamente julgar” – Joana Moreira, 22 anos.
Existe limites no humor? A questão que será sempre uma questão…
Estamos em 2023, vivemos numa dualidade do “sou livre, expresso a MINHA verdade”, mas se “tu tens uma perspetiva diferente da MINHA, vou julgar”. Esta era do “julgamento fácil” é assustadora, ao ponto de que tudo o que dizemos pode tornar-se alvo de avaliação em segundos.
É importante não tomar a “minha verdade” como certa e saber aceitar outras perspetivas…desde que não entre no desrespeito e ofensa a certos valores pessoais.