O português que “dá cartas” no mundo da magia…e em Hollywood
Written by Inês Ferreira on 31 de Janeiro, 2023
Gonçalo Sousa vive na Califórnia. É um sonhador e um talento no mundo da magia.
O interesse pela magia nasceu com ele, quando era criança teve o primeiro contacto com esta arte, onde o “impossível torna-se possível” e os sonhos tornam-se realidade.
Gonçalo Sousa, nasceu no Porto, mas aos 14 anos mudou-se para os Estados Unidos da América. Na altura, o pai recebeu uma proposta de trabalho para Los Angeles e a família mudou-se.
Hoje, é mágico em Hollywood. Já atuou no Magic Castle, uma das salas mais famosas de magia. Agora, com 23 anos, é licenciado em Economia/ Contabilidade e em Português, pela Universidade Estadual da Califórnia, Santa Bárbara (UCSB), mas será que é este o seu caminho?
Numa entrevista fora do baralho, vamos conhecer o caminho do Gonçalo, o “little boy from Porto”, o sonhador, o talento português que promete dar cartas.
Quando e como surgiu o ilusionismo na tua vida?
O ilusionismo surge de uma brincadeira quando era miúdo, durante as festas de família. Eu tinha um kit de magia com meia dúzia de truques e todos os anos fazia um show de magia, juntava a família toda na sala.
Houve um ano, numa noite de passagem de ano, em vez de estar na festa fui para o meu quarto pesquisar no Youtube “truques de magia” e apareceu um truque muito simples: pegar numa bola, metê-la na minha mão, apertava com força e ela desaparecia. O Youtube foi o sítio ideal para aprender. E é assim que surge, com uma brincadeira em casa.
Quando me mudei para os EUA, tive a oportunidade de ir ao Magic Castle, em Hollywood, e soube que eles tinham um programa de juniores, fiz a audição e entrei. A partir daí tive acesso ao mundo da magia, este mundo estava aos meus pés.
Surge como um interesse que tomou proporções absolutamente gigantescas.
Licenciado em Economia/ Contabilidade e em Português. Procuraste nessa formação um plano B à magia, ou não estava nos planos fazer do ilusionismo uma profissão?
A minha vida tem sido guiada pelos interesses momentâneos. Durante o secundário, a magia era mesmo o que eu queria fazer como profissão. Já nos EUA, quando entrei na faculdade escolhi Economia, também não podia trabalhar devido ao visto de estudante que tinha.
Entrei na faculdade sem gostar da faculdade e de estudar, sempre fui bom aluno mas nunca achei piada à escola. Não era um plano B, era o que tinha de ser. Depois, apaixonei-me pelo estudo do Português e acabei por tirar licenciatura em Português e Economia.
Por isso, os projetos foram seguindo caminhos paralelos. Nunca parei de fazer magia enquanto estava na faculdade e nunca deixei que a magia se sobrepusesse aos estudos.
Aos longos destes anos, descobri que fazer do ilusionismo uma profissão era complicado, isto porque o que me apaixona no ilusionismo é a possibilidade de criar histórias num palco. Para fazer este tipo de carreira precisava de me dedicar a 300%. Não é por falta de interesse, mas é por ter interesse noutras coisas, como ter-me apaixonado pela literatura portuguesa. Agora, estou a estudar para ser professor de liceu na Califórnia, com o objetivo de ensinar português como língua estrangeira.
Respondendo à pergunta, parte como um plano B, e outra parte como uma procura de vários interesses. Mas sim, o ilusionismo continua a ser uma das carreiras que quero fazer. Gosto de me diversificar o mais que posso.
Quem e onde te inspiras?
É uma pergunta difícil. É mais ao contrário, o que não me inspira? A inspiração pode vir de qualquer lado. Passo muito tempo a olhar o mundo, e às vezes a inspiração vem de uma nuvem, de uma frase, de um sonho ou pensamento. Mantenho-me informado e tento saber o que se passa no mundo, estar em contacto com outras culturas. Eu vivo num espaço bicultural… inspiro-me em todo o lado, o mundo é um lugar bonito.
Uma grande inspiração é Fernando Pessoa, sou apaixonado pelo universo pessoano. Outra das minhas inspirações é o pôr-do-sol.
Qualquer pessoa pode ser mágico?
Acho que sim, a beleza da nossa vida e da nossa realidade é que podemos fazer de nós aquilo que nós quisermos ser. Qualquer pessoa que queira ser mágico pode fazer de si próprio um mágico. É preciso muito trabalho e prática.
A viver nos EUA, qual o ponto alto da tua carreira?
Tenho dois. O momento em que atuei no Magic Castle e os meus avós estavam presentes e quando fui premiado pela Academy of Magical Arts.
Quais os sonhos para o futuro?
Sou um sonhador nato. Em termos de magia, ter o meu próprio show e apresentá-lo pelo mundo fora. Atuar formalmente em Portugal também é um sonho. A nível académico, fazer um doutoramento em Língua Portuguesa e ser professor nos Estados Unidos.
A qual figura conhecida gostavas de apresentar a tua magia?
Mais do que apresentar a minha magia a alguma figura conhecida, gostava de ter a oportunidade de fazer um workshop sobre as minha ideias, apresentação em palco. Nisso sim gostava de trabalhar com algumas pessoas.
Na esfera portuguesa gostava de trabalhar com o Diogo Batáguas, acho que ele tem uma ideia de como fazer comédia e de estar em palco, onde me revejo. Na esfera internacional gostava de trabalhar com o Rowan Atkinson, o Mr. Bean. Nesta personagem, ele conta histórias hilariantes só pela forma como mexe a cara, o corpo, o seu posicionamento. Esta construção de uma realidade só com o corpo, é fenomenal. No mesmo seguimento, outra figura é o Jim Carrey e no trabalho que ele fez no filme “A Máscara”.
Acreditas que em Portugal esta indústria (artes) ainda é pouco valorizada?
A indústria das artes é pouco valorizada em Portugal, e aí existe um grande contraste entre o sistema de ensino português e o americano. Nos EUA há um grande investimento no desporto e nas artes ao nível escolar.
A magia sendo uma arte performativa muito específica é totalmente desvalorizada, em Portugal.
Ser mágico é…?
Esta é a minha pergunta favorita. Ser mágico é ser sonhador, observador, irreverente, é tornar uma ideia realidade, é não se conformar com os limites que o universo nos impõe e é acima de tudo ser um contador de histórias.