Afegãs já regressaram ao trabalho
Written by Daniela Rebelo on 1 de Setembro, 2021
Afegãs regressam ao trabalho sem grandes mudanças sob o poder talibã.
Duas semanas depois do Afeganistão ser ocupado pelos talibãs, algumas afegãs já regressaram ao trabalho.
Inicialmente, os novos dirigentes talibãs pediram às mulheres para ficarem em casa, temporariamente, enquanto alguns combatentes eram formados para as tratarem corretamente.
De lembrar que o movimento islâmico prometeu ser mais flexível em relação às mulheres, do que durante o seu anterior regime, desde que trabalhem de acordo com “Sharia” (lei islâmica).

Durante o primeiro regime dos talibãs (1996-2001), a grande maioria das mulheres não podia trabalhar, mas algumas tinham autorização para tal, em particular no setor da saúde.
Nos setores da saúde e da educação, as mulheres, contactadas pela agência France-Presse, afirmam que até agora viram poucas mudanças em relação à situação antes da tomada do poder pelos talibãs.
No entanto, outras funcionárias ainda aguardam autorização por parte dos talibãs para retomar as suas atividades.

Em Cabul, uma enfermeira de uma clínica apoiada pelo governo francês indicou que “algumas colegas minhas não voltaram e algumas tentam abandonar o Afeganistão”, recusando ser identificada para evitar eventuais represálias.
Na passada sexta-feira, o novo Emirado Islâmico pediu às profissionais de saúde que regressassem ao trabalho “normalmente”.
Continua em rigor a regra de que “os médicos homens não podem examinar as mulheres”, disse à AFP uma parteira empregada numa clínica perto de Kandahar (sul).
Porém, esta regra já esteve em vigor durante as duas últimas décadas em grande parte do Afeganistão e ainda não está confirmada pelo novo governo.

Em Cabul e nas principais cidades do país, as mulheres estavam habituadas a consultar médicos homens, com exceção de ginecologistas.
Na sexta-feira, um quadro talibã declarou que as mulheres têm “o direto inato” de trabalhar e acrescentou que “elas podem trabalhar, estudar, participar na política e fazer negócios”, mas recusam aulas mistas.
Alguns acreditam que as aulas não mistas permitirão que as raparigas de famílias conservadoras frequentem a universidade, outros preocupam-se com a falta de professores qualificados.
“Eu dou aulas aos rapazes, por isso não sei se me autorizarão já que sou uma mulher”, declara emocionada uma professora de inglês de um liceu de Cabul.
Por enquanto, a maior preocupação destas mulheres qualificadas continua a ser a situação económica. Num país largamente dependente da ajuda estrangeira para os seus serviços públicos uma diminuição dos subsídios internacionais, pode ter consequências devastadoras, assinala a AFP.
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Fonte: Jornal de Notícias / Fotografia: Getty Images