Dois futebolistas caem inanimados em campo, um deles com paragem cardíaca
Written by carmen ferreira on 23 de Junho, 2021
As duas ocorrências aconteceram no dia 19 de junho, em jogos diferentes, tendo sido a mesma profissional a arbitrar as partidas e socorrer os dois jovens.
Eunice Mortágua, socorreu no passado dia 19 de junho, dois jovens que caíram inanimados durante jogos do campeonato distrital de formação de Aveiro.
Um dos jogadores sofreu três paragens cardíacas até ao momento em que chegou a ambulância.
“O dia 19 de junho ficará marcado para sempre da pior maneira e acho que nunca vou esquecê-lo”
A árbitra da Associação de Futebol de Aveiro (AFA), afirma ainda que, apesar de já ter visto várias situações onde existem fraturas de pulsos ou pernas, sábado passado ficará para sempre marcado da pior maneira. Anotou ainda à agência Lusa que fica feliz por ter acabado bem.
Um dos acontecimentos ocorreu no final do encontro entre o AC Famalicão e o Ponte de Vagos-Juveforce (6-0), da oitava jornada do campeonato de sub-20 da AFA, que estava a ser disputado no Campo José Maria Mariz Silva, em Arcos, no concelho de Anadia.
Gonçalo Marques, de 17 anos, sofreu uma falta na zona do tornozelo, tendo de sair do campo para ser assistido. O jovem terá começado a ter um ataque de ansiedade. Os médicos acrescentaram que o cansaço, o nervosismo e o facto de sofrer de asma foram os fatores que puderam ter desencadeado a situação.
A enfermeira, que assistia à partida, acorreu na direção do jovem para o colocar numa posição lateral como recomendam os protocolos de socorro imediato, até à chegada da equipa médica, enquanto as duas equipas jogavam os minutos que faltavam até ao fim do jogo.
Quando de pé, Gonçalo começou a chamar o delegado, que se apercebeu que este estava com um “olhar perdido”, não respondendo nem reagindo. Foi quando o jogo acabou que ele teve três paragens cardíacas até à vinda da ambulância, que conseguiram ser revertidas pelos profissionais que se encontravam no local.
O INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) demorou cerca de 15 a 20 minutos a chegar e, assim que chegaram ao local, tiveram de amparar uma nova falência súbita cardíaca de Gonçalo Marques, que acabou por ser transportado para o Centro Hospitalar de Coimbra.
Eunice Mortágua, para evitar que os colegas de equipa do jovem assistissem ao acontecimento, ordenou que fossem para o balneário tomar banho.
“Todos gostam de estar ali a ver e é difícil conseguir parar os olhares. Mandei logo os miúdos embora para tomarem banho e não assistirem àquilo. Já os bombeiros colocaram o menino na ambulância e não o conseguiram estabilizar, mas sei que se encontraram com o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU)”
O jogador acabou por receber alta na madrugada de domingo.
No entanto, a árbitra já havia assistido a outra situação semelhante em campo, durante a manhã do mesmo dia. Um membro da equipa do Valonguense, que Eunice preferiu não identificar, caiu também inconsciente perto do fim da partida com o Taboeira B (1-9), da oitava ronda do Grupo E do torneiro de encerramento do campeonato de juniores da AFA, que ocorreu no Campo Bastos Xavier, em Valongo do Vouga, no município de Águeda.
“Teve um choque contra um adversário na zona abdominal e acabou por cair um pouco inanimado. Como não conseguia respirar, começou a ter convulsões. Abria os olhos e entendia o que lhe dizíamos, mas, de um momento para o outro, começava a ficar muito tenso e a revirar os olhos. Assustámo-nos um bom bocado por causa disto”
Juntamente com o treinador do Valonguense, Márcio Ferreira, a treinadora natural de Aveiro usou as técnicas de suporte básico de vida, como a desfibrilhação automática externa e os primeiros socorros.
“Começou a ter ataques de ansiedade, que são normais, porque queria respirar e não conseguia. Tentámos acalmar o jogador e pedimos um saco de papel para controlar a respiração. Mesmo assim, não foi fácil, porque esteve assim até chegar a ambulância. Estabilizámos um pouco o atleta, mas depois voltou àquela situação inicial”
Passados 25 minutos, os bombeiros acabaram por chegar ao local.
“Os bombeiros meteram oxigénio e o corpo relaxou, já que ele não estava a conseguir controlar a respiração com a dor. Melhorou, mas viram que a coisa podia não ser tão simples e chamaram o CODU. O enfermeiro avaliou e disse que não era necessário ir para Aveiro. Seguiu só para o Centro Hospitalar do Baixo Vouga, em Águeda”
Apesar da situação de grande aflição, o jogador do Valonguense regressou a casa no mesmo dia.
Eunice Mortágua assume nunca ter experienciado idêntico retrato de pânico durante as duas décadas e meia de experiência em diversos escalões, a cumprir funções na Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF).
A profissional finalizou, acrescentando ainda que, “Todos deviam ter uma formação básica nesse aspeto e não falo só dos clubes. Depois, penso que as pessoas têm de nos começar a ver de outra maneira. Antes de ser árbitra, sou mãe e sou um ser humano. Muitas vezes, esquecem-se que o árbitro é unicamente um ser humano igual a todos e também não fica indiferente a estas situações”.
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Fonte: SIC Notícias
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