Artigo de Opinião: O tempo da ciência
Written by Redação on 22 de Janeiro, 2021
“O tempo não é de politiquices, de baixa política, de populismos e demagogias baratas. É de alertas firmes e de críticas construtivas: coisa que a oposição em geral tem feito de forma correcta e honesta. O tempo é de lideranças fortes, mas principalmente da ciência e de quem sabe apontar as melhores soluções neste dias conturbados: os ESPECIALISTAS, essa entidade genérica que define quem sabe do que fala e de quem devemos seguir as sugestões.”
O TEMPO DA CIÊNCIA
Não há medidas certas em tempos incertos. Não há receitas infalíveis no meio de tantas variáveis. Há que avaliar qual das soluções provoca um dano menor, na certeza de que defender vidas é sempre a melhor opção. Eu diria mesmo, a primeira de todas as opções. Nada substitui uma vida perdida. O que preferimos, a perda de familiares e amigos ou um ano lectivo comprometido, ou pelo menos seriamente afectado? Haveremos de encontrar formas de compensar o tempo lectivo perdido, de forma criativa e solidária, em prol de uma missão nacional imprescindível e prioritária: salvar vidas, salvar o Serviço Nacional de Saúde, salvar a economia, salvar o futuro. Basicamente, salvar o país.
Em tempos terríveis como este nunca foi tão importante e fundamental decidir rápido e com coragem, sem hesitações e sem ambiguidades. Nunca foi tão importante uma grande capacidade de antecipação dos acontecimentos, de previsão e de reacção.
É o que se pede a quem governa, sempre, que decida bem e o mais rápido possível. É por isso que não somos todos governantes e muitos nem desejam assumir essa responsabilidade: porque é difícil e doloroso, porque existe uma pressão enorme e porque os homens não são de ferro. Mas quem governa tem de parecer. Se tivéssemos seguido os maiores especialistas portugueses em epidemiologia provavelmente as férias do Natal teriam sido prolongadas por mais duas semanas e não estaríamos neste ponto. Se as promessas, muito antigas e transversais a vários governos ao longo de muitos anos, já tivessem sido cumpridas, as escolas já teriam fechado porque seria possível proporcionar a todas as crianças um ensino à distância com meios tecnológicos adequados, sem descurar os casos de apoio social mais urgentes – situação que parece ter sido acautelada.
Não há decisões mágicas para todos, universais e consensuais. O que é bom para a minha família pode ser um desastre para outra. Depende do meu poder financeiro, do meu vínculo profissional, das minhas poupanças, de quantos filhos tenho e da distância de idades entre cada um. Há que decidir pelo geral e pelo bem comum.
É difícil, complicado e complexo, mas é nisso que acreditamos quando votamos: que estamos a escolher quem nos vai liderar, mesmo nas maiores tormentas. O tempo não é de politiquices, de baixa política, de populismos e demagogias baratas. É de alertas firmes e de críticas construtivas: coisa que a oposição em geral tem feito de forma correcta e honesta.
O tempo é de lideranças fortes, mas principalmente da ciência e de quem sabe apontar as melhores soluções neste dias conturbados: os ESPECIALISTAS, essa entidade genérica que define quem sabe do que fala e de quem devemos seguir as sugestões. São pessoas que não pensam em cargos nem em eleições, não pensam em mordomias nem em carreiras. São os nossos melhores cérebros, que passaram anos a estudar, que sabem o que desconhecemos e que podem guiar-nos neste denso nevoeiro em que estamos emersos sem saber para onde seguir. É a lição que devemos aprender nesta pandemia: ou seguimos os conselhos de quem sabe, sem valorizarmos as intuições pessoais, as teimosias inconsequentes ou os tacticismos dispensáveis, ou caminhos para uma navegação à vista, que nos obriga a reagir em vez de agir, de prever, de antecipar.
Esta pandemia também demonstrou de forma mais evidente e transparente tudo o que já sabíamos, somos um país de cidadania medíocre e de sensibilidade mediana. O país que não dá prioridade aos mais velhos nas paragens de autocarro e às grávidas nas filas a que nos habituámos, que transforma as estradas em cemitérios, que não vota em dias de sol, que atropela pessoas em passadeiras, que acelera dentro das cidades e nas imediações das escolas, que sai de casa para passear durante os confinamentos, que aluga cães ou exibe trelas sem animal para furar as regras, que sai de casa mesmo infectado e até sugere nas redes sociais aos amigos que façma o mesmo – desde que não contem a ninguém a coisa passa. Ao mesmo tempo que os profissionais de saúde estão à beira da exaustão. Somos um país que não respeita e não se respeita.
Estamos a viver a maior tragédia nacional de que há memória – há quantos dias seguidos “cai um avião” em Portugal e nós continuamos a viver como se nada fosse? -, e isso exige de nós vários desafios que não podemos perder: sermos melhores, escolhermos os melhores, seguirmos os que mais sabem e que são neste momento os melhores do ponto de vista científico. E já agora, darmos os sinais mais correctos aos nossos filhos: eles resitem a 15 dias, até mesmo um mês sem aulas, mas nunca vão ser ninguém sem humanismo, respeito pelos outros e educação.
Segue a ONFM no Instagram e Facebook
Artigo de Opinião: António Esteves – Jornalista
Créditos da foto: Marisa Martins
Pingback:
Pingback: