Ibuprofeno vs Paracetamol: O que é melhor ou pior para a infeção da Covid-19
Written by Joana Timóteo on 15 de Março, 2020
Afinal, o que se sabe sobre estes medicamentos?
Muitas mensagens têm circulado pelas redes sociais. Uma delas está a ser partilhada via WhatsApp, que alerta para os riscos da toma de Ibuprofeno, como Brufen ou Spidifen, por doentes infetados com Covid-19.
Segundo a mensagem, este anti-inflamatório aumenta a “velocidade de disseminação do vírus e a probabilidade de doença grave porque aumenta a expressão de receptores ACE nos pulmões”. Lê toda a mensagem abaixo:
Já na rede social Twitter, o ministro da Saúde francês, Olivier Véran, defendeu que os doentes infetados com Covid-19 não devem tomar anti-inflamatórios, como o Ibuprofeno, porque estes podem “ser um fator que piora a infeção”. “Em caso de febre, tome paracetamol. Se já está a tomar medicamentos anti-inflamatórios ou se tem dúvidas, contacte o seu médico para receber aconselhamento”, acrescentou o ministro.
O Diretor-Geral da Saúde de França, Jérôme Salomon, também desaconselhou o uso do medicamento como forma de minimizar os sintomas da Covid-19.
A pergunta que se faz é: terão estes conselhos fundamento?
De facto, a conceituada revista científica Lancet lançou, no dia 11 de março, um estudo intitulado “Os pacientes com hipertensão e diabetes estão em maior risco de infeção por COVID-19?”, com base em três estudos feitos a doentes chineses. Nele, os investigadores admitem que o Ibuprofeno aumenta a quantidade no organismo das chamadas enzimas conversoras de angiotensina 2 (ACE2), uns recetores que são usados pelo novo coronavírus para entrar nas células humanas. Assim, se há mais ACE2 no organismo, maiores são as probabilidades de contrair Covid-19, defendem os investigadores.
Apesar de se poder ler no estudo que as hipóteses estão ainda “por confirmar”, este sustenta ainda que os fármacos vulgarmente usados para a diabetes e para a hipertensão, por estimularem as tais enzimas ACE2, “aumentam o risco de uma infeção grave e fatal com Covid-19”.
O pneumologista Filipe Froes adianta ao Observador que, no que toca às conclusões do estudo aplicadas à hipertensão, as hipóteses foram já colocadas em causa pelo Conselho de Hipertensão da Sociedade Europeia de Cardiologia, que considera que se trata de uma “especulação” sem uma “base científica sólida”.
“O Conselho recomenda fortemente que médicos e pacientes continuem o tratamento com a terapia anti-hipertensiva habitual, porque não há evidências clínicas ou científicas que sugiram que o tratamento com ACE ou ARB [fármacos anti-hipertensivos] seja interrompido por causa da infeção por Covid-19”, pode ler-se no comunicado abaixo.
Este esclarecimento leva também Joaquim Ferreira, neurologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, a defender, em declarações à SIC Notícias, que “não há necessidade de mudar a medicação para hipertensão fruto deste alerta”.
Quanto ao Ibuprofeno, neste caso, ainda nenhuma sociedade científica negou as hipóteses do estudo — mas também nenhuma as confirmou.
Caso as conclusões sejam efetivamente validadas, serão “os próprios médicos e as sociedades científicas a comunicar e a desaconselhar. O próprio Infarmed tem um mecanismo de informar sobre esses alertas, o que não é o caso”, explica Joaquim Ferreira.
Ainda assim, “mesmo não havendo nenhuma razão forte que o justifique, em vez de as pessoas tomarem Brufen [o nome comercial de Ibuprofeno] podem tomar Paracetamol, nome comercial de Ben-u-ron”. “No fundo, é apenas uma opção”.
Fonte: Observador