Polícia ensina gestão de conflitos a professores de várias escolas
Written by Cheyenne Domingues on 30 de Janeiro, 2020
Cada vez mais diretores, de várias escolas, pedem ajuda à polícia para encontrar formas de gerir conflitos, manter a disciplina nas salas de aula e evitar agressões.
Equipas da PSP da Escola Segura realizaram, no passado ano letivo, 110 ações sobre violência escolar. A maioria foi dirigida a crianças e jovens, mas há cada vez mais professores e funcionários interessados no assunto.
“Os professores estão aflitos e preocupados e necessitam de aconselhamento sobre como agir”, afirma João Cunha, coordenador da equipa da Escola Segura da 4.º Divisão da PSP, em Lisboa, e que tem a seu cargo 116 escolas.
Na semana passada, uma equipa da 4.º divisão esteve na escola EB23 Paula Vicente a pedido da direção que queria saber como “prevenir futuras ações”, clarifica David Restelo, coordenador do estabelecimento de ensino.
No ano letivo de 2017/2018, a PSP e a GNR registaram mais de seis mil ocorrências em meio escolar. Em média, os agentes tiveram de se deslocar 17 vezes por dia a uma escola do país, segundo o último Relatório Anual de Segurança Interna que revela uma diminuição de registos.
As injurias e ameaças são a terceira principal razão das queixas à PSP e GNR. Em primeiro lugar aparecem as ameaças à integridade física e depois o furto.
Além dos casos de professores agredidos e ameaçados por alunos, há docentes ameaçados por pais porque deram uma má nota ao filho, porque o mandaram para a rua ou apenas porque o repreenderam, como aconteceu com o diretor da escola.
As agressões por parte de pais são cada vez mais frequentes. Para evitar que as escolas se transformem em campos de batalha, o agente Antero Correia recorda algumas regras de segurança básica que devem ser acauteladas.
Sair da escola para falar com encarregados de educação “não será a melhor opção”, alerta Antero Correia. Além disso, o professor deve ter ao seu lado “sempre alguém presente e chamar [o encarregado de educação] para a sua zona de conforto e zona segura”, acrescenta. No fim, o conselho de quem anda há uma década a acudir a problemas em escolas: “Não sai você da sua zona segura”.
Mas há muitas outras situações que nunca chegam ao conhecimento das autoridades e João Cunha admite que tem dificuldades em aceitar que as vítimas não façam queixa.
“Se um aluno insulta um professor na sala de aula não se pode ficar por um processo disciplinar. Isso é crime e é dever do professor fazer uma denúncia, caso contrário também poderá estar a incorrer no crime de ocultação”, lembra o chefe da PSP.
Professores agredidos, ameaçados e até expostos nas redes sociais são casos que chegam diariamente ao conhecimento da polícia.
Num email da direção da escola enviado para o chefe da 4.º Divisão da PSP, os professores apresentaram alguns cenários de problemas na sala de aula: “O aluno começa por provocar o professor dentro da sala de aula. O que faz o professor?”; “O aluno resiste a sair da sala de aula”… vai lendo João Cunha. Para os agentes da Escola Segura, nada disto é novidade.
Aos cenários sugeridos no email, João Cunha acrescenta casos reais muito mais violentos. Os agentes recordam umas fotografias “manipuladas de uma professora dentro da sala de aula em atos sexuais”. As imagens da “stora” tornaram-se virais.
“Aquilo estava mesmo bem feito”, recorda Antero Correia, explicando a dificuldade de conseguir repor a verdade.
“O ano de 2019 foi atípico no que toca à divulgação de imagens e sons dentro das salas de aulas”, acrescenta João Cunha.
No final, o chefe da PSP deixou um pedido: “Não hesitem, não tenham medo. A classe de professores não pode ter medo. Compete a cada um de nós exercer a autoridade que cada um de nós tem”
João Cunha acredita que até pode demorar, mas a “restituição da autoridade vai acontecer”. Até lá, lembra, “o aluno não pode ver medo nem fraqueza”.